Google Translator

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Conto: "Vida que passa"

Vida que Passa

Sábado de manhã. Quase onze e quarenta, hora costumeira de sair para o almoço. “Mas quem vai trabalhar no sábado de manhã, no Centro”, sua mulher lhe perguntou. Nem respondeu. Virou-lhe as costas, e já estava trancando a porta, quando seu filho pequeno começou a esmurrá-la por dentro, gritando: “Papai, papai”! Ele abriu a porta e o pequeno estendeu os braços para o alto. Abaixou-se, abraçou-o e disse alguma coisa que fez o menininho balançar a cabeça positivamente.
O escritório estava vazio. Lógico. Lembrou-se da fala da mulher que, enciumada, pensava que ele fosse se encontrar com alguma amante. “Ligue para o telefone da minha mesa”, respondeu ele. E reviu mais uma vez a cena da saída do lar.
Somente o som das teclas do computador se opunham ao ruído monótono do condicionador de ar. Não tinha curso de datilografia, mas digitava tão rápido quanto seus erros lhe permitiam. E tentava corrigi‑los, sempre que os notava.
Detestava trabalhar aos sábados, até porque nunca tinha entendido direito aquela política de banco de horas. E com o condicionador de ar somente na ventilação, sem refrigerar nada, revoltava‑se mais ainda contra aquela situação.
Mas o que fazer? Cumprir prazos, fazer relatórios, apresentações. Tinham ligado no dia anterior, dizendo que precisavam de várias alterações nas apresentações e nos documentos que havia gerado. Claro, tudo para segunda-feira, de manhã. Não, não era possível estender o prazo. A conta é muito importante. E ele, claro, era o único especialista da área.
Foi aí que aconteceu. Tudo escureceu, e não fosse a hora e a luz solar, teria ficado no escuro. Acabou-se a energia. A tela se apagou. Um grito de raiva contendo dois palavrões rasgou o ar. Por sorte, perderia apenas parte do trabalho, pois tinha o costume de utilizar o recurso de salvamento automático. E, por sorte também, não havia ninguém mais ali.
Levantou-se e foi à janela, olhar se mais alguém tinha o mesmo problema. Viu alguma coisa grande passar rápido, mas não a divisou bem: parecia-se com um enorme pano de prato. Não percebeu a forma. “Se não sei o que é, como pode ser um pano de pr...”. Um enorme estrondo o interrompeu e assustou. Em seguida, o inconfundível ruido de uma sirene de alarme de carro. O alvoroço vinha da rua, lá de baixo. Abriu a janela, procurando ver o que era.
Lá embaixo, um corpo inerte jazia sobre um carro. O capô completamente amassado pelo choque, e o cadáver numa posição que se assemelhava a uma marionete displicentemente jogada no chão. Os faróis e setas piscando furiosamente, igualando-se ao ritmo da sirene do alarme.
Começou a juntar gente. Esquisito que o som do alarme estivesse tão alto, se o andar em que ele estava não era baixo. Estranho também era o fato de ouvir o que as pessoas falavam, de tão longe, e com a sirene tão alta. No entanto, não entendia o que falavam.
Olhou o relógio. Onze e quarenta e três. Resolveu descer para almoçar, e daria uma olhada no pobre homem. Suicídio era, para ele, um ato de muita covardia, ou muita coragem. Acreditava na vida após a morte, e que suicídio era ir contra a lei de preservação.
A maldita porta que dava para o hall dos elevadores não queria abrir. Não podia ser a trava eletromagnética: não tinha energia! “Um pé de cabra viria bem a calhar”, pensou.
Passou da porta de entrada do prédio, e uma pequena multidão já se formava em torno do acidente. Não se via mais o carro. Uma ambulância dos bombeiros acabava de chegar, e o trânsito parou na estreita rua. Os enfermeiros saltaram e se dirigiram ao homem; examinaram-no, concluindo pelo óbito.
Não conseguiu ver o pobre-diabo. Muita gente, e ele odiava aglomerações. Parou em frente à porta do restaurante, sentindo-se confuso. Deu de ombros, e já ia entrar, quando ouviu alguém atrás de si:
— Aonde pensa que vai — perguntou uma voz grossa e cavernosa. Ele pensou ter ouvido reverberações daquela fala nos prédios em volta. Achou que era porque estava estressado, porque era sábado, porque o centro da cidade estava vazio.
Voltou-se e viu um estranho alto, magro, com calça e agasalho pretos. O capuz estava vestido e, mesmo àquela hora, não viu o rosto. Sem se intimidar, respondeu:
— Almoçar, claro. Eu o conheço?
— Está me conhecendo, Paulo. Vim buscá-lo — aquelas palavras lhe causaram estranheza. Preparou-se para lutar, mas não sentiu sua pulsação acelerar. Nem o sangue subir, nem os cabelos se arrepiarem. Nada.
Como aquele estranho sabia seu nome? Achou melhor entrar no restaurante, mas não pode se mexer.
— O que está fazendo comigo — perguntou, aos gritos.
— Grite à vontade. Ninguém vai...
— Me ouvir mesmo? Frase batida, hein? Podia falar “não adianta gritar”, só. Eu ia entender...
Viram os bombeiros retirando o morto. Paulo finalmente viu a cara do homem, mas não o reconheceu. O choque com o carro desfigurou o rosto daquele ser. A cena lhe tirou todo o apetite.
— Você conhecia?
— Conheço. Seu xará.
Paulo achou no mínimo intrigante que o homem também levasse seu nome. Nem viu as roupas direito; o sangue tinha se espalhado por elas.
— E como sabe meu nome?
— Eu já lhe disse: vim buscá-lo.
Paulo quis saber por que alguém tinha vindo buscá-lo. E insistiu que o estranho lhe dissesse como sabia seu nome. O homem de preto lhe disse que tudo seria esclarecido a seu tempo. Paulo insistiu. Queria saber também que tipo de truque usou para fazer com que ele não conseguisse se mover. Ouviu a seguinte resposta:
— Você sempre se achou muito inteligente, não é? Dizia a todos o contrário, para tentar dominar a própria arrogância, mas nunca acreditou realmente no que falava — Paulo sentiu a vergonha invadir sua alma, porém, não se sentiu enrubescer —. Se é tão esperto assim, responda‑me: como chegou à entrada do seu prédio? Estava lutando com a porta do escritório, e depois estava lá embaixo.
— Simples! Eu... Ué! Eu desci pelas escadas! Não tinha energia no prédio.
— Tem alguma lembrança de ter descido as escadas?
Paulo trocou o sorriso triunfante por um rosto de desconcertada dúvida. Não se lembrava. Era como o homem de preto tinha falado: num minuto à porta do escritório, e no próximo, à entrada do prédio.
— Vejo que já não está mais tão confiante assim. Vou lhe perguntar mais umas coisas, então: como chegou ao restaurante? E como voltamos para cá?
Paulo chegou a abrir a boca para responder que tinha andado, como sempre, mas procurou na mente as imagens da caminhada, e não as encontrou. Não tinha lembrança de nenhum dos três deslocamentos.
Cada vez mais confuso, começou a vasculhar no seu cérebro tudo o mais que havia esquecido. Tentou se lembrar ao máximo do dia até ali. Nada.
— Às vezes, vocês têm momentos de perturbação, quando passam por traumas muito fortes.
— E qual trauma forte? Não passei por nada! Estou bem!
Paulo terminou a frase gritando. Sentiu-se, contudo, fisicamente inalterado. O homem de preto lhe perguntou o que tinha falado para seu filho antes de sair de casa. Paulo não sabia. O estranho lhe perguntou o que sentia pela esposa. Paulo respondeu automaticamente:
— Eu a amo! Ela é a mulher da minha vida. Não é perfeita, mas é excelente mãe e companheira.
— Então, por que a trai — perguntou, causando-lhe imediato desconforto.
Como aquele estranho sabia tanto da sua vida, Paulo desconhecia. Uma coisa de bom aconteceu, com todo aquele sentimento, misto de ódio e perplexidade: ele se lembrou das constantes brigas com a esposa, da vontade que tinha que ela se envolvesse mais com ele novamente, que o procurasse mais, ao invés de evitá-lo.
Lembrou-se das discussões por motivos bobos, e das semanas que passavam sem se tocar, por causa delas. E começou a enumerar mais momentos ruins que bons, nos últimos anos. Finalmente, lembrou-se da briga que teve com a mulher, antes de sair de casa.
Aquelas más lembranças resgataram outras que estavam perdidas. A raiva que tinha pelas várias portas que se fecharam a ele durante toda a sua vida, malgrado todos os esforços. As pequenas depressões pelas quais passava, de tempos em tempos, pelo esforço despendido e nunca reconhecido.
Abaixou a cabeça, sacudindo-a. Apercebeu-se do peso da mágoa que carregava, e do tempo que passou nutrindo os sentimentos de revolta contra tudo e todos. Recordou-se dos amigos que desistiram de demovê-lo daquelas ideias negativas, depois de tentarem fazê-lo por anos a fio, e se entristeceu.
Suas frustrações vieram à mente em ondas que fizeram a cabeça latejar, e ele caiu de joelhos, rememorando como tratava seus filhos: o mais velho se afastou; e o mais novo lhe tinha medo. Levantou a cabeça, e não viu mais ninguém à sua volta, à exceção daquele estranho homem. Estava escuro. As lágrimas correram pela sua face, e Paulo finalmente se arrependeu por ter deixado sua vida chegar àquele ponto.
Olhou para o homem de preto, ainda sem definir-lhe o rosto, e lhe perguntou:
— E o blecaute?
A única resposta que Paulo recebeu dele foi um leve toque daquela mão esquelética na sua fronte. Clarões estouraram em sua mente, e ele sofreu espasmos. Lembrou-se do que disse ao seu filho pequeno: “Cuide bem da mamãe. Você e seu irmão são os homens da casa, agora”.
O motivo da sua vinda ao escritório ficou claro, e ele viu que nunca existiu blecaute algum. Nem trabalho. Apenas a janela. O vento. O choque. A escuridão.
Está na hora de ir — Disse o estranho.
Paulo se levantou e o acompanhou.


sábado, 3 de maio de 2014

Futebol é magia? E a Copa?

Olá

Em primeiro lugar, minhas desculpas por ficar tanto tempo sem publicar no blog. Estou tentando divulgar o livro, arrumar uma editora, enfim, tudo aquilo que é muito mais difícil que escrever um livro, mesmo que a estória seja boa. Hoje eu gostaria de falar de uma coisa diferente: futebol e Copa do Mundo!
A próxima Copa do Mundo será aqui no Brasil. ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ... Mesmo?
Ainda temos vários problemas com educação, saúde, segurança, transporte, infraestrutura, escândalos na política, e aí vai. Estádios superfaturados, inacabados, e as declarações dizendo que as coisas só ficarão prontas "no último minuto". Inacreditável, não?
Mas e daí? Daí que temos visto a queda de popularidade da atual mandatária, numa constância que certamente lhe tirará a reeleição. A menos que... o quê? Ganhe-se a Copa?

Uma Copa do Mundo ganha em casa, para um país em que futebol é praticamente uma religião, é mais que obrigação: é defesa da honra! O Brasil tem uma seleção para ganhar a Copa? Pode até ser, mas eu não me fiaria nisso...
Portanto, a menos que o Brasil seja muito competente, perderá a Copa. Ou o resultado será manipulado, a fim de que lhe seja dada a vitória, e ajude a alavancar as pesquisas em favor de quem está em queda.


#copadomundo
#futebol